sábado, 26 de março de 2011

As mutações na expressão da religiosidade

Bandeira da Corporação dos sapateiros



Estudo na Universidade












S.Francisco de Assis





Tal como hoje, na Idade Média a cidade era um lugar de muitos contrastes. Os ricos que se tornaram mais ricos com a prosperidade das actividades económicas faziam muito cortejo da riqueza, o que punha a miséria mais em evidência. A miséria acumulava-se de gente pobre do campo atraída para a cidade à procura de trabalho e bons salários que muitas vezes acabava por não encontrar, vivendo tão ou mais pobre do que tinham chegado, sem família e sem amigos a quem pedir ajuda. Para quebrar este isolamento, desenvolveram-se novos laços de união que se estruturaram em organismos de solidariedade destinados à ajuda mútua e à prática de caridade. A Igreja Católica identificava-se com o grupo dos ricos e levava a vida faustosa dos grandes senhores laicos. Foi em contestação a este luxo que nasceram movimentos de retorno à humildade e pobreza originais, sendo o mais importante e revolucionário o das ordens mendicantes, criadas por S. Francisco e S. Domingos.

S. Francisco nasceu em 1182, em Assis. Era filho de um dos mais ricos mercadores da cidade e foi uma grave doença que o fez cair em si, renunciar aos bens terrenos e dedicar a vida a ajudar os outros e a pregar a palavra de Deus. Fundou a ordem dos Frades Menores, que vivia numa pobreza absoluta, trabalhando e esmolando para sobreviver. Até quando passaram a viver em conventos, construíram-nos bem no centro da miséria e saíam sempre para pregar e fazer caridade. Em Portugal, a ordem estabeleceu-se muito cedo, salientando-se o convento de Leiria.
A ordem fundada pelo espanhol Domingos de Gusmão (1170-1221) partilhava os mesmos ideais. No entanto, os dominicanos davam mais importância à pregação, pelo que se dedicavam muito ao estudo da Teologia. Os mosteiros tornam-se assim centros culturais que vão desempenhar um papel decisivo na história da civilização ocidental. Fechados no seu scriptorium (a oficina de escrita e iluminura) e nas suas bibliotecas, os monges copistas contribuíram para salvar do esquecimento as obras literárias da Antiguidade.
Entre as instituições de solidariedade da época medieval destacam-se as confrarias. As confrarias eram associações de entreajuda, de carácter religioso, que se organizavam sob a protecção de um santo.
Nas cidades medievais os diversos grupos profissionais organizavam-se em corporações. Cada corporação agrupava os trabalhadores de um mesmo ramo regulamentava todos os aspectos que respeitavam ao exercício da profissão. Para além disto competia-lhe promover a solidariedade social entre os seus membros. Cada confraria tinha os seus estatutos. Os fundos para as suas actividades provinham de uma pequena quotização anual, obrigatória para todos os “irmãos”, e de ofertas dos confrades mais ricos. As actividades eram cuidadosamente planeadas e organizadas na casa da confraria, onde os confrades se reuniam para se ocuparem das suas obrigações e conviverem.

A expansão do ensino elementar; a fundação de universidades
Até ao século XI, a leitura e a escrita, aprendidas nas escolas, eram privilégio quase exclusivo dos clérigos e dos monges. Os mosteiros mais conceituados eram verdadeiras livrarias (bibliotecas) e as suas escolas monacais, destinadas à preparação de jovens candidatos a monges.
O renascimento urbano trouxe consigo o aparecimento de escolas ligadas às catedrais – escolas urbanas ou escolas catedrais – que progressivamente vieram a ganhar autonomia e importância, até dar origem às universidades, que ao início eram chamadas de Estudos Gerais. O Estudo Geral agregava mestres e discípulos dedicados ao ensino superior de algum ramo específico do saber (Medicina, Direito, Teologia). Ao desenvolver para universidade passou-se a fazer referência ao estudo universal do saber, ao conjunto das ciências. Supõe-se que a primeira universidade europeia tenha sido criada na cidade italiana de Salerno. As universidades de Bolonha e de Paris são também das mais antigas. A partir do século XIII, as universidades tomaram uma feição mais nacional, mais ligadas ao Estado, e fundar universidades tornou-se uma tarefa régia. Foi neste contexto que nasceu a primeira universidade portuguesa, o Estudo Geral de Lisboa, criada por D. Dinis e um grupo de prelados, em 1290.O Estudo Geral de Lisboa funcionou com as Faculdades de Artes, Direito Canónico, Leis e Medicina. O estudo de Teologia manteve-se nos mosteiros em Alcobaça e Santa Cruz de Coimbra. Em 1308, o rei transferiu o Estudo Geral para Coimbra.

Sem comentários:

Enviar um comentário